segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Yvonne, Princesa da Borgonha


"E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala (...) E disse o senhor: confundamos ali a sua língua para que um não entenda a língua do outro."
(Gênesis)


             À pergunta: O que é teatro?, Jean-Marie Pradier responde em tom de provocação: Teatro é o que eu chamo de teatro. Para mim teatro é estilo, uma questão de percepção e imaginação, organizada de forma intuitiva e racional. O escritor, ensaísta e dramaturgo Witold Gombrowicz filosofa em toda a sua obra sobre uma questão fundamental: a aquisição e a tirania da forma. Impressiona pela sua lucidez, ironia, irreverência, contemporaneidade e um olhar mordaz e corrosivo sobre a humanidade. Tudo isso com humor, sutileza e sensualidade.


            Yvonne, Princesa da Borgonha, foi escrita há quase setenta anos. Nesta montagem, o texto é conservado na íntegra. É um exemplo precioso do grotesco no teatro, concebido por um gênio da literatura que sempre foi fiel a si mesmo, a despeito dos modismos e da indiferença de seus colegas e críticos. Quase no fim da vida foi reconhecido internacionalmente com a publicação de Ferdydurke e Cosmos, recentemente publicados no Brasil.


            No espetáculo, o grotesco aflora através da justaposição entre o trágico, o cômico, o ridículo e o humor negro, ressaltado pela sensação de encurralamento e de indiferença diante das atrocidades e injustiças cometidas. Procurei acentuar, por ações e imagens, o clima de corrupção, decadência, arrogância, falsidade, manipulação e a constante ameaça física e moral que assola sem tréguas a desavergonhada Borgonha.

Irion Nolasco











Zero Hora, 30 de novembro de 2007


Jornal da Universidade, novembro de 2007




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